Movimentos Partidos: geopolíticas da "revolução brasileira (1964-1985)

Curso: 
Programa de Pós-Graduação em Geografia.
Data da Defesa: 
29/09/2008
Palavra Chave: 
Brasil – transição democrática – geopolítica – movimento operário

O advento do regime burocrático-militar, em 1964, permitiu que a geopolítica – uma nova forma de racionalização e tecnificação do território, discurso e ação do poder – ocupasse posição central na arena política. A otimização do território, com vistas à reprodução ampliada do capital, fez-se graças a um planejamento autoritário, que produziu uma nova divisão socioterritorial do trabalho. A volta dos militares aos quartéis, após 21 anos à frente do Estado brasileiro, todavia, não representou um recuo desse projeto geopolítico. Ao contrário, o que esta tese pretende demonstrar é que o plano distensionista, desencadeado pelo general-presidente Ernesto Geisel, em 1974, teve por objetivo último a manutenção do Grande Projeto, utilizando-se da política trabalhista como um de seus instrumentos. A questão trabalhista tornara-se “delicada” pela contribuição dos trabalhadores (por intermédio do “arrocho” salarial) na conformação do “milagre” brasileiro. Assim, a primeira das três partes deste trabalho – “O longo milagre, seus santos e epifanias” – analisa as políticas econômicas do regime. Tais políticas marcaram-se pela luta contra a inflação e pela ideologia desenvolvimentista, sucedânea do imaginário geopolítico do Brasil Grande (potência): no contraponto do “paraíso” da classe média, a contenção salarial do exército industrial de reserva, até o limite da fome. Nesse contexto, a revolução do generalato começou a enfrentar a oposição de outras imagens da revolução, conforme demonstrado na segunda parte da tese – “Adeus às armas”. Essa parte inaugura-se com uma discussão teórica sobre partidos, sindicatos e o movimento operário, prosseguindo com a análise da situação da classe trabalhadora no Brasil, suas distintas organizações, projetos societários e formas de enfrentamento do regime. O combate do establishment a essas organizações deu-se, essencialmente, no terreno da geopolítica, ou seja, por mecanismos de controle sobre territórios materiais ou simbólicos. Para colocar a casa em ordem, o regime utilizou-se de instrumentos de repressão física (a comunidade da informação) e simbólica (a ocultação da “resistência”) e, opondo-se à concepção maoísta do cerco do campo pela cidade, desencadeou o cerco da cidade pelo campo. Os objetivos essenciais desse boom urbano eram geopolíticos: a integração do arquipelágico território nacional, para não o entregar a Estados e ideologias “exóticas”. As cidades promoveram um novo modus vivendi e demandas, exponencialmente ampliadas, de acesso a um padrão superior de consumo. Posto que a autocrítica da luta armada se centrasse no caráter “pequeno-burguês” de suas lideranças, o surgimento de Lula, um operário à frente da poderosa onda grevista do interregno 1978-1980, foi tomado como impulsionador de um novo patamar de organização dos trabalhadores, o que, posteriormente, se consubstanciaria no PT e na CUT. Na terceira parte – “Em busca da democracia perdida” – retoma-se o debate teórico sobre as transições democráticas e as especificidades da brasileira. Finalmente, a política trabalhista de Geisel é revisitada, tal qual sua reação às greves do período. Lula apregoava apenas a maximização da produtividade do trabalho sob o capitalismo, em suma, “o exercício da liberdade com responsabilidade”, defendido por Geisel. Conclui-se que Lula e seu partido revelaram-se poderosos antídotos à “doença incurável” do comunismo, alvo primeiro dos geopolíticos militares brasileiros.

Banca/Orientador(es): 
Profª. Drª. Vânia Rúbia Farias Vlach
Banca / Examinador(es): 
Profª. Drª. Lia Osório Machado, Prof. Dr. Antônio Ozaí da Silva, Prof. Dr. Júlio César de Lima Ramires, Profª. Drª. Heloisa Helena Pacheco Cardoso.
Discente: 
Sandra Rodrigues Braga