Pobreza material: juventude, disciplina, sonhos e utopia urbana: estudo sobre a "cidade dos meninos", em Ribeirão das Neves - MG

Curso: 
Programa de Pós-Graduação em Geografia
Data da Defesa: 
26/10/2007
Palavra Chave: 
Ribeirão das Neves, Cidade dos Meninos, Trabalho, Metropolização, Periferia, Juventude

O objetivo deste trabalho é analisar, à partir de uma perspectiva geográfica, como o processo de metropolização de Belo Horizonte, a capital do estado de Minas Gerais, incidiu sobre a cotidianidade e os modos de vida da população de Ribeirão das Neves, município da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Procura dar destaque especial aos que optaram, de certa forma, por viver “fora” do movimento conturbado da cidade em questão e apresenta uma discussão sobre o funcionamento de um projeto filantrópico denominado “Cidade dos Meninos São Vicente de Paula”, que traduziremos neste trabalho como “Cidade dos Meninos” (CDM), nome pelo qual é conhecido pela comunidade local. A relação metrópole/periferia urbana é descrita, nesta pesquisa, a partir da observação dos usos e das impossibilidades do urbano apontadas pelos ideais filantrópicos que se amparam no discurso da preservação da moral cristã e da manutenção da ordem. Pessoas são seduzidas pela idéia de viver e morar longe dos problemas e dos conflitos do urbano. Buscam alternativas para este impasse distanciando-se o mais possível de áreas comumente chamadas de “perigosas” ou de riscos. Optam pelo afastamento das relações pessoais mais intensas e ampliadas e se resguardam algumas vezes em guetos ou grupos fechados por afinidades. O arremedo de cidade se apresenta. A “Cidade dos Meninos” aponta caminhos que buscam dar respostas aos conflitos urbanos no município aonde se instalou. Uma das soluções para a não vivência dos aspectos negativos encontrados em Ribeirão das Neves é o convite feito a centenas de jovens para que experimentem o regime de internato. Assim, aparentemente, a juventude materialmente desprivilegiada fica longe das drogas (e da família), do sexo (e das festas), do vandalismo (e dos lugares públicos), da violência (e da autonomia individual), da precariedade econômica (e da dinâmica natural do município). São escolhas que dão indícios de que o urbano se fragmenta e a utopia das cidades perde importância. Não há lugar para todos na dinâmica urbana. A vivência plena da cidade dá lugar à sedução dos muros que protegem e mascaram parte da realidade vivenciada diariamente. A pesquisa se deterá em perceber e explicar que nesta relação da metrópole mineira com a sua região metropolitana, uma instituição filantrópica ganha destaque pelas propostas apresentadas a centenas de jovens: vencer na vida através da preparação para o mercado de trabalho é uma delas. A mão-de-obra juvenil e não qualificada que faz uso constante da metrópole para diversos fins, sente-se envaidecida e prestigiada com tal possibilidade. Vidas se transformam, sonhos são estimulados, um novo mundo se anuncia. A cidade perde um pouco do seu brilho. A instituição “Cidade dos Meninos”, paradoxalmente, legitima o poder das iniciativas privadas de cunho assistencialista e mostra que o discurso da disciplina, da moral e da obediência seduz e traz consigo a idéia da ausência do Estado como instrumento regulador da ordem. A preparação para o trabalho aparece como forma de dominação e de captura dos sonhos na periferia da capital mineira. Sonhos que, muitas vezes, tornam-se reais, possíveis.

Banca/Orientador(es): 
Prof. Dr. Rosselvelt José Santos
Banca / Examinador(es): 
Prof. Dr. Antonio Júlio de Menezes Neto; Prof. Dra. Helena Copetti Callai; Prof. Dr. Júlio César de Lima Ramires; Profa. Dra. Beatriz Ribeiro Soares
Discente: 
Paulo Henrique de Lima Oliveira